Notícias da Beira
I
Tremula ao vento a bandeira
E soa ao largo o clarim,
A pátria chama por mim,
Eu vou entrar na fileira,
Tudo quanto a dor encerra,
Comtanto que a minha terra,
Meu Portugal seja amado,
E o portuguez, que é soldado,
Nunca teve medo á guerra
II
Minha enxada abandonei-a,
Meu alvião lá ficou;
Coração, que tanto amou,
Outra estrela hoje o norteia.
Deixo, alegre, a minha aldeia,
Os meus amores, o meu lar,
Vou p´rá França batalhar
Á luz viva desta espada,
Que a honra da pátria amada,
A´ vitoria hade levar
III
Meu braço, que á neve e ao vento,
As duras terras volveu,
Sabe que é sob este céu
Que fica meu pensamento.
Se, portanto, for sangrento
E rude o seu combate,
Não estranheis que o dever
Assim lh´o ordene, ó teutões:
Vai defender corações,
Salvar a pátria ou morrer.
IV
Soldado, vamos marchar
Unidos como um só corpo.
Que importa que fiques morto
Se vais mundos resgatar?
Ou nas terras d´além-mar,
Ou n´essa França querida,
Não me importa dar a vida
Em nome da humanidade.
Sou filho da liberdade,
Quero a pátria redimida.
Tomás da Fonseca
«Notícias da Beira»; Ano 11; N.º 508; Castelo Branco, Domingo, 9 de Agosto de 1914.
Elizabete Canilho
Mariana Lourenço